quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009


“...O Tietê deu a São Paulo quanto possuía: O Ouro das areias, a força das águas, a fertilidade das terras, a madeira das matas, os mitos do sertão. Despiu-se de todo encanto e de todo mistério: Despoetizou-se e empobreceu por São Paulo e pelo Brasil.”


Alcântara Machado

O Rio Tietê


O Rio Tietê percorre o estado de São Paulo de leste a oeste. Nasce em Salesópolis, na Serra do Mar, a 840 metros de altitude e não consegue vencer os picos rochosos rumo ao litoral. Por isso,ao contrário da maioria dos rios que correm para o mar, segue para o interior, atravessa a Região Metropolitana de São Paulo e percorre 1.100 quilômetros, até o município de Itapura, em sua foz no rio Paraná, na divisa com o Mato Grosso do Sul. Em sua jornada banha 62 municípios ribeirinhos e seis sub-bacias hidrográficas, em uma das regiões mais ricas do hemisfério sul.
Em Tupi, Tietê significa "caudal volumoso". O significado histórico e o papel econômico desse rio é conferem a sua grande importância para o país.
O Tietê está diretamente ligado às conquistas territoriais, realizadas pelos Bandeirantes que desbravaram os sertões, fundando povoados e cidades ao longo de suas margens.

A Bacia Hidrográfica do Tietê


1.Alto Tietê
2.Médio Tietê
3.Piracicaba / Jundiaí
4.Tietê / Jacaré
5.Tietê / Batalha
6.Baixo Tietê


A necessidade de promover a recuperação ambiental e a manutenção de recursos naturais escassos como a água, fez com que, a partir da década de 70, o conceito de bacia hidrográfica como unidade de planejamento passasse a ser difundido e consolidado no mundo.
Para trabalhar a questão da água doce no Brasil é preciso entender as características e as dinâmicas das principais bacias hidrográficas e rios do pais. A bacia do Rio Tietê é uma unidade hidrográfica da Bacia do Rio Paraná, composta por seis sub-bacias: Alto Tietê, onde está inserida a Região Metropolitana de São Paulo; Piracicaba; Sorocaba/Médio Tietê; Tietê/Jacaré; Tietê/Batalha e Baixo Tietê.

A Bacia do Alto Tietê


A bacia hidrográfica do Alto Tietê corresponde a área drenada pelo rio Tietê, desde sua nascente em Salesópolis, até a Barragem de Rasgão. Com uma área de 5.985 km², com grande superfície urbanizada, composta por 35 municípios. É considerada uma das bacias mais complexas do país no que se refere à gestão ambiental, principalmente por decorrência das profundas alterações causadas aos seus rios por diversas obras hidráulicas e pelo modelo de urbanização adotado no último século.
As alterações nos regimes hidrológicos e hidráulicos e a poluição dos rios, somadas ao fato da Região Metropolitana de São Paulo ser uma das áreas de maior adensamento urbano do mundo, com uma população em torno de 17,8 milhões de habitantes, com previsão de atingir 20 milhões em 2010, resulta numa baixa disponibilidade de água por pessoa, com índices comparáveis às áreas mais secas do Nordeste Brasileiro.
Apesar de apresentar índices pluviométricos na faixa de 1.400 mm por ano e de ter sido conhecida como a "terra da garoa", a baixa disponibilidade hídrica ocorre também por estar localizada numa região de cabeceiras. Os principais contribuintes do Rio Tietê, na sua cabeceira, são os Rios Claro, Paraitinga, Jundiaí, Biritiba-Mirim e Taiaçupeba, que juntamente com o próprio Tietê compõem os mais importantes mananciais de abastecimento da região, formados pelos reservatórios de Ponte Nova, Jundiaí e Taiaçupeba, projetados para abastecimento público e, secundariamente, para controle de enchentes.
A área urbana da bacia ocupa aproximadamente 37% de seu território e, apesar das taxas de crescimento populacional estarem sofrendo acentuada diminuição, isto não se reflete na contenção da expansão da mancha urbana. A expulsão da população de baixa renda para a periferia das cidades agrava a degradação ambiental, em especial as áreas de proteção de mananciais e as várzeas.

O Rio no cotidiano dos paulistas


No final do século XVI as várzeas do Tamanduateí e do Tietê reuniam inúmeras lavadeiras, geralmente escravas negras ou mamelucas de famílias pobres que cuidavam das roupas do paulistano. Dificilmente se via nessa tarefa uma mulher branca. Apenas a partir do século XIX com a chegada dos imigrantes é que as várzeas e rios de São Paulo passaram a contar com a presença de mulheres de diversos grupos sociais.
Alguns poetas e historiadores descrevem cenas do cotidiano paulista, ao amanhecer, quando romarias de lavadeiras percorriam a antiga Estrada da Penha, atual Rangel Pestana e as ladeiras da General Carneiro e do Carmo, com trouxas nas cabeças repletas de roupas sujas para serem lavadas nos afluentes do Tamanduateí.Desde aquela época, no período de estiagem, já havia disputa pelas águas das várzeas e explodiam brigas entre o grande número de lavadeiras. Foi desse cenário que a expressão "briga de lavadeira" se originou. Ainda hoje quando ouvimos dizer que uma discussão sem importância é "conversa de lavadeira", não nos damos conta de que essas e outras expressões se originaram de fatos reais do passado.

Tietê - Rio do esporte (antigamente)


O Projeto Tietê


Em 1992, após o movimento popular que conseguiu reunir mais de um milhão de assinaturas e contou com forte envolvimento da mídia, o Governo de São Paulo criou o Programa de Despoluição do Rio Tietê, entregando à Sabesp, empresa ligada à Secretaria de Recursos Hídricos Saneamento e Obras a responsabilidade de sua execução.
O Governo paulista buscou junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID –os recursos necessários para o maior projeto de recuperação ambiental desenvolvido no país.
A Sabesp ficou com a difícil e ousada tarefa: acabar com a poluição gerada por esgotos na Região Metropolitana de São Paulo. Essa solução recebeu o nome de Projeto Tietê.
Além de uma atuação direta nas áreas de saneamento básico, o Projeto Tietê previa o controle da poluição industrial e dos resíduos sólidos, a abertura e urbanização dos fundos de vale e um forte incremento em educação ambiental.
A primeira etapa
Com início em 1992, o Projeto buscou metas ambiciosas: estender o serviço de coleta de esgotos a mais de 250 mil famílias, ampliando o percentual de população urbana atendida nos municípios tratados pela Sabesp, de 63% em 1992, para 83% em 1999.
Porem caminhou vagarosamente até 94, apesar das falsas promessas de resultados imediatos – como a possibilidade de aproveitamento do rio Tietê para lazer em menos de cinco anos - fato que discredibilzou o Projeto perante a população.
Como parâmetro de comparação, o Programa de Despoluição do Rio Tâmisa, na Inglaterra - tido como exemplo de sucesso - começou a ser delineado em 1895 e passou a apresentar, lentamente, os primeiros resultados a partir de 1930. Apenas no final da década de 70, quase 100 anos após seu início, resultados perceptíveis foram alcançados.
Mostra-se com isso, que a recuperação de grandes rios que passam por regiões densamente povoadas, não têm resultados instantâneos, pois, depende essencialmente de ações continuas e integradas.
A partir de 1995, o Governo do Estado de São Paulo, por intermédio da Sabesp, redirecionou o Projeto Tietê e conseguiu a renegociação do financiamento com o BID. Isso permitiu a ampliação do serviço de coleta de esgotos para mais de 1,5 milhão de pessoas e o aumento de 9,5 metros cúbicos por segundo na capacidade de tratamento de esgotos da Região Metropolitana de São Paulo, elevando o percentual de esgotos tratados em relação aos esgotos coletados, de 20%, em 1992, para 60%, em 1998.
Foram executadas as obras da Estação de Tratamento de Esgotos - ETE de São Miguel, com 1,5 m3/s de capacidade; a ETE Parque Novo Mundo, com 2,5 m3/s; a ETE ABC, com 3,0 m3/s, a ampliação da ETE Barueri de 7 m3/s para 9,5 m3/s; a implantação de 1.480 km de redes coletoras de esgotos, 223 mil novas ligações domiciliares, 270 km de coletores-tronco e 31,3 km de interceptores.
Mais de 1.200 industrias, correspondente a 90% da carga poluidora industrial lançada no rio Tietê, aderiram ao Projeto e deixaram de lançar resíduos e toda espécie de contaminantes no curso d’água. Nessa fase o Projeto Tietê recebeu investimentos de US$ 1,1 bilhão, dos quais US$ 450 milhões foram financiados pelo BID, US$ 450 milhões com recursos próprios da Sabesp e US$ 200 milhões em financiamentos de outras fontes, como a Caixa Econômica Federal.
A segunda Etapa
Diferentemente das grandes obras que marcaram o início do Projeto Tietê, a segunda etapa deve continuar a expansão das ligações domiciliares de esgoto e otimizar o sistema instalado. A meta é aumentar a quantidade efetiva dos esgotos tratados, através do encaminhamento máximo possível dos esgotos coletados às Estações de Tratamento.
A Sabesp deverá estender os serviços de coleta de esgotos a mais de dois milhões de pessoas na RMSP, ampliando o atendimento à população urbana de 80%, em 1998, para 90% - o que pode ser considerado a universalização da coleta de esgotos na região a cargo da Sabesp. O tratamento dos esgotos coletados será ampliado de 63% para 70% e controlar a emissão dos efluentes de mais de 290 industrias, em parceria com a Cetesb.
Para alcançar essas metas estão previstas a execução de 960 km de redes coletoras, 290 mil ligações domiciliares e 141 km de coletores-tronco e interceptores. As obras estarão, na maior parte, concentradas na região sul e ocorrerão ao longo do rio Pinheiros e em uma parte do Tietê. Os esforços se concentram na bacia do Pinheiros com um total de 26 obras. A Sabesp espera conseguir uma melhoria significativa na qualidade das águas dos mananciais Billings e Guarapiranga, uma vez que parte dos efluentes que chegam a essas represas serão coletados e encaminhados à ETE de Barueri, que terá sua capacidade de tratamento ampliada para 12 m3/s.
Ao final dessa etapa espera-se uma sensível melhora na qualidade das águas dos rios Tietê e Pinheiros, com benefícios para a saúde pública, trazendo o declínio dos índices de mortalidade infantil e ganhos para a qualidade ambiental da bacia hidrográfica do Alto Tietê, com resultados significativos às bacias do Médio e Baixo Tietê.
A educação ambiental com participação da sociedade civil organizada e mecanismos de controle social do Projeto são componentes dessa etapa que deverá gerar a possibilidade de implantação de programas de re-uso planejado da água e aumento da disponibilidade de água potável. Ações complementares, sob responsabilidade de outros órgãos do Estado de prefeituras e ongs visam equacionar as cargas difusas da poluição, amenizar os problemas referentes ao uso e ocupação do solo, de coleta e disposição de resíduos sólidos.
Os investimentos previstos somam US$ 400 milhões, sendo 50% referentes ao financiamento do BID e restante com recursos próprios das Sabesp.

A manutenção do Tietê

A partir de outubro, oito retroescavadeiras retirarão nos 41 quilômetros da calha do Rio Tietê, entre as Barragens de Edgar de Souza e Penha, 400 mil metros cúbicos de entulho, no período de um ano. O volume é suficiente para lotar as caçambas de 40 mil caminhões. O Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) investirá R$ 27,2 milhões nesse projeto de engenharia preventiva, considerado essencial para garantir o escoamento das águas do rio em períodos de chuvas sem o transbordamento do leito. O anúncio foi feito ontem, dia 22, data em que se comemora o Dia do Tietê.

Mais uma vez o governo do Estado arca sozinho com a responsabilidade que deveria ser de todas as prefeituras e comunidades da região metropolitana de São Paulo, que durante décadas contribuíram fortemente para a poluição das águas do Rio Tietê. Sem vazão suficiente, o rio passou a responder às agressões com grandes ameaças à população em todas as épocas de chuvas. A cada forte precipitação, as águas inundavam bairros inteiros, deixando grande número de moradores desabrigados, a capital paralisada e a saúde das comunidades ameaçada.
Entre 1995 e 2006, com financiamento do Japan Bank for International Cooperation (JBIC), o governo realizou a principal obra do Programa de Combate às Enchentes, o aprofundamento e alargamento da calha, ao custo de US$ 1,1 bilhão.